ARQUIVO 21 - PERGUNTAS E RESPOSTAS DE OUTUBRO A DEZEMBRO 2002
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Prezado JA,
Em primeiro lugar, meus parabéns por ter escolhido o caminho da seriedade profissional. Assim como você, muitos outros devem estar se dando conta de que o bom ensino de línguas não é aquele padronizado em pacote e comercializado pelas grandes redes. É no mínimo saudável esse seu interesse em se afastar da fórmula mercantilista e procurar um caminho mais acadêmico. Além disso, sua humildade e coragem em reconhecer suas limitações são prova de inteligência e de um caráter nobre.
Permita-me aqui entretanto discordar de sua afirmação de que possui capacidade de ensinar apenas iniciantes. Aquele que ainda não possui pleno domínio sobre o idioma, não deveria jamais instruir iniciantes, pois estaria transferindo a linguagem com desvios justamente no momento em que o aluno começa a formar a matriz de sons da língua estrangeira. Principalmente no caso de crianças e adolescentes, essa preocupação deve ser grande. Se o instrutor tiver uma proficiência limitada, com sotaque e outros desvios que normalmente caracterizam aquele que não é nativo, todos esses desvios serão transferidos à criança, podendo causar danos irreversíveis a seu potencial de assimilação. Seria como colocar a gema bruta nas mãos de um lapidador aprendiz.
São três a qualificações que você deve buscar para se tornar um bom professor de inglês:
1) Plena fluência e competência cultural,
A primeira qualidade (na verdade um pré-requisito) - fluência e competência cultural - é a mais importante e a mais difícil de ser alcançada. E para isto não há método. Há, isto sim, a necessidade de perseverar numa longa caminhada. Proficiência plena em inglês só é alcançada por assimilação em ambientes autênticos da língua e da cultura estrangeira. Tais ambientes você encontra preferencialmente no exterior, mas pode encontrá-los também aqui em boas escolas de inglês. Em nosso site você encontra orientações sobre como escolher um programa de inglês no exterior e como escolher uma escola de inglês no Brasil.
2) Características de personalidade apropriadas e
3) Qualificação acadêmica e experiência prática.A segunda qualidade importante para um instrutor de língua estrangeira está nas suas características de personalidade, as quais têm um papel especialmente importante nas modernas abordagens comunicativas. O bom instrutor deve ser hábil no plano pessoal-psicológico para construir um relacionamento forte com os alunos, explorando os aspectos psicológicos na relação ensino-aprendizado.
Finalmente, o instrutor deve ter conhecimento dos conceitos de language learning e language acquisition e da diferença entre eles, conhecimentos de psicologia educacional, linguística comparada, diferentes métodos de ensino de línguas, fonologia, gramática e alguma experiência como instrutor.
Veja uma descrição mais detalhada sobre as qualificações de um bom professor de inglês em nossa página O que é um bom professor de inglês.
Desejamos-lhe boa sorte.
Atenciosamente, Ricardo - EMB
Prezado Rodrigo, Você está absolutamente certo ao trocar o curso atrelado a um plano didático por conversação criativa no contato com a língua e a cultura em ambientes informais. Uma nova viagem ao exterior seria o complemento ideal. Cuidado entretanto com as grandes empresas de intercâmbio, aquelas com filiais por todo o Brasil. As escolas que eles representam provavelmente são boas, mas a probabilidade de você acabar mergulhando num ambiente de língua e cultura brasileira é alta. Quanto maior a agência de intercâmbio, tanto maior a chance de se encontrar conterrâneos brasileiros, com os quais invariavelmente acaba-se falando português. Este é um fator de peso para o aproveitamento do aluno.
Leia também Como Aprender Inglês no Exterior. Atenciosamente, Ricardo - EMB
Prezada Audrey, Sobre as concepções do ensino de línguas, ou seja, sobre aquilo que se sabe hoje a respeito do ensino de línguas, eu sugiro que você comece definindo língua, enfatizando tratar-se de um fenômeno fundamentalmente oral. Veja a página deste site O que é língua? Pode continuar escrevendo sobre como se aprende línguas, principalmente como crianças aprendem. Sobre isso veja Por que crianças aprendem melhor?
Pode concluir com sugestões sobre como deveríamos ensinar. Aqui não deixe de estabelecer uma diferença entre o que é indicado para uma língua com alto grau de irregularidade e baixo grau de similaridade em relação à L1, como no caso do inglês, e aquilo que seria indicado para uma língua com um baixo grau de irregularidade e alto grau de similaridade à L1, como no caso do espanhol. Sobre isso veja O papel da escola e Assimilação natural x estudo formal.
Não deixe de ler também a bibliografia que você encontra nessas páginas. Você também encontrará conceitos interessantes no PCN sobre línguas estrangeiras do Ministério da Educação.
A solicitação para que você escreva sobre os objetivos funcionais de cada série revela um certo desconhecimento de quem solicitou. O desenvolvimento da habilidade com uma língua estrangeira é difícil de ser medido, depende de um conjunto de habilidades que devem ser desenvolvidas em harmonia, não segue etapas distintas e não deve estar atrelado a um plano serializado e com objetivos específicos. Em resumo, não devem haver metas além do objetivo principal de se conseguir criar um ambiente autêntico de língua e cultura estrangeira que proporcione o engajamento da criança em situações reais de comunicação. Atenciosamente, Ricardo - EMB
Caro José Roberto, Você está certo quando substitui a partícula apassivadora ou o símbolo de indeterminação do sujeito "se" do português pelo sujeito explícito em inglês; no caso de abstracts "I" ou "we" se o trabalho for assinado por mais de um pesquisador. A aversão ao uso da voz passiva pode ser especialmente observada no inglês norte-americano. Sua pergunta é muito pertinente, pois revela um forte e interessante contraste entre as duas línguas. No português escrito observa-se uma tendência de se usar um tom de linguagem vago, fazendo-se frequente uso de recursos gramaticais como sujeito indeterminado e voz passiva, que permitem omitir o sujeito - um dos elementos essenciais da oração. No português valoriza-se a linguagem afastada dos fatos e maquiada pelas formas, enquanto que a beleza estética do inglês moderno está na substância, na simplicidade, na clareza, na riqueza de detalhes e na integridade lógica. Atenciosamente, Ricardo - EMB
Caro André,
Obrigado por sua participação.Qualificação e habilitação (licenciamento) são dois conceitos diferentes. Qualificação é o conteúdo, enquanto que habilitação é um rótulo que, como todo rótulo, não representa garantia de qualidade do conteúdo.
Qualificação e habilitação são diferentes principalmente quando o agente habilitador carece de competência e o licenciamento é fornecido sem que haja qualificação. É o caso de muitos cursos de letras no Brasil que licenciam (habilitam) professores de inglês sem saber qualificá-los.
Portanto, se eu fosse você, daria menos importância ao licenciamento e partiria em busca de qualificação. São três os aspectos que qualificam um professor de inglês: 1) plena fluência e competência cultural,
2) características de personalidade apropriadas e
3) qualificação acadêmica e experiência prática.
Veja uma descrição mais detalhada sobre as qualificações de um bom professor de inglês em nossa página O que é um bom professor de inglês.A primeira qualidade (na verdade um pré-requisito) - fluência e competência cultural - é a mais importante e é melhor obtida por assimilação em ambientes autênticos da língua e da cultura estrangeira. Se você já possui pleno domínio e deseja comprová-lo, pode se submeter a qualquer um dos exames de avaliação de proficiência conhecidos - Michigan, TOEFL, IELTS, CPE -, os quais são unicamente exames de avaliação de proficiência cujo objetivo é apenas tirar um retrato, o mais fiel possível, da habilidade funcional da pessoa no momento em que se submeteu ao exame. Veja nossa página sobre exames de proficiência em inglês.
A segunda qualidade importante para um instrutor de língua estrangeira está nas características de sua personalidade, as quais têm um papel especialmente importante nas abordagens comunicativas. O bom instrutor deve possuir um conjunto de habilidades no plano pessoal-psicológico que lhe permitam construir um relacionamento forte com os alunos, explorando aspectos psicológicos na relação ensino-aprendizado. (Veja novamente em nossa página O que é um bom professor de inglês uma descrição mais detalhada sobre isso.) Esta é lamentavelmente uma área pouco estudada e mesmo negligenciada pela maioria dos cursos universitários formadores de professores de línguas.
A terceira qualidade de um professor de inglês é a qualificação acadêmica. É indispensável que o instrutor tenha clara consciência dos conceitos de language learning e language acquisition e da diferença entre eles, desejável também que tenha conhecimentos de psicologia educacional, linguística comparada, diferentes métodos de ensino de línguas, fonologia, gramática e alguma experiência como instrutor. Muitos desses conhecimentos você pode obter em algumas disciplinas dos cursos de letras no Brasil ou ainda melhor se fizesse um TESL certification no exterior. Até mesmo como autodidata, pela leitura de bons livros e de sites como o nosso, você pode alcançar um bom conhecimento sobre ensino e aprendizado de inglês.
Finalmente, sobre seu interesse em se iniciar na profissão, nossa recomendação é que você tenha sempre como objetivo maior tornar-se independente. Assim que tiver alguma experiência, sentindo-se capaz, deve pensar em montar sua própria escola. Defendemos a ideia de um ensino de línguas não-padronizado e acreditamos que escolas de idiomas independentes, em mãos daqueles quem têm competência linguística, trarão maior eficácia ao ensino de línguas no Brasil.
Atenciosamente,
Ricardo - EMB
Prezado Frederico, Você tem razão. Existem diferenças fonéticas na vogal neutra dos exemplos que você citou. Na verdade, é ilimitado o grau de precisão com que podemos apresentar uma descrição fonética de uma língua. Nós, em nossa página sobre vogais, optamos por uma descrição simplificada, em que a vogal neutra chamada de schwa é sempre o mesmo fonema, seja ela tônica ou não, e esteja ela alterada pela presença da semi-consoante retroflexa /r/ ou não. A maioria dos dicionários, em suas transcrições fonéticas, mostram essas variações em suas descrições fonéticas usando símbolos diferentes. Atenciosamente,
Ricardo - EMB
Prezado Rodolfo, O grande interesse pela formação acadêmica de qualidade proporcionada pelas universidades norte-americanas faz com que surjam empresas que vendem serviços de orientação na escolha e intermediação no processo de matrícula. Além de cobrarem preços que não são baratos, são dispensáveis, pois basta o candidato entender inglês e saber usar a Internet, para obter todas as informações necessárias. Além disso, o candidato que mantém contato direto com as universidades pelas quais se interessa causa uma melhor impressão do que aqueles que usam intermediários. Finalmente, existem também guias de cursos superiores nos EUA e Canadá que podem ser comprados pela Internet (Amazon.com por cerca de 30 a 40 dólares) e que oferecem farta orientação. Um desses guias é o renomado Peterson's. O sistema de ingresso em universidades norte-americanas é simples, permitindo que qualquer um faça sua matrícula, sem necessidade de intermediação. Entretanto, para quem realmente sente-se desamparado na escolha de um programa de estudos superiores nos EUA, existem empresas prestadoras deste tipo de serviço, tanto aqui no Brasil quanto no exterior. Uma dessas empresas é a AUAP - American Universities Admission Program, que presta este serviço pela Internet. Existem também entidades que prestam serviços de intermediação gratuitamente, como por exemplo o International Education Service.
Leia nossa página sobre Educação Superior nos EUA e Canadá.
Atenciosamente,
Ricardo - EMB
Prezada Elisa,
Conheço ambos os dicionários que você mencionou e não vejo diferença significativa entre eles. Talvez os símbolos fonéticos do Merriam-Webster sejam mais fáceis de interpretar, mas isso é apenas questão de hábito.Dicionários de pronúncia são essencialmente dicionários sem a definição, só com a representação fonética. Têm a vantagem do tamanho e do peso reduzido, mas a desvantagem da falta da definição. São úteis para nós que carecemos de contato com a língua falada, mas hoje já existem os speaking dictionaries eletrônicos, que reúnem todas as vantagens: são pequenos, leves, têm a pronúncia e a definição. Em relação aos dicionários de pronúncia impressos, que oferecem apenas informação visual sobre a pronúncia, os eletrônicos são muito mais reais, pois reproduzem a pronúncia na forma de som. Afinal, assimilamos a ortografia correta pela visão e a pronúncia correta pela audição.
A única desvantagem dos dicionários eletrônicos é o preço e a dificuldade de serem encontrados.
Veja mais sobre isso em Dicas sobre Pronúncia.
Atenciosamente,
Ricardo - EMB
Prezado Ricardo,
Pais e familiares não devem iludir-se com a possibilidade de ensinar uma segunda língua a seus filhos usando-a em paralelo à língua predominante.Língua é um elemento de relacionamento humano. A língua usada é parte importante do relacionamento entre duas pessoas. A língua que a criança fala faz parte do relacionamento que a criança mantém com cada pessoa em seu ambiente. A intimidade de um ambiente familiar tem uma identidade única, tornando-se difícil criar ambientes múltiplos, caracterizados por diferentes línguas. A língua que a família usa é a língua que a criança assimilará. Para assimilar outras línguas, a criança terá que frequentar outros ambientes.
O caminho ideal é encontrar falantes nativos de inglês que venham a construir um relacionamento com sua filha, desde o início, em inglês e unicamente em inglês. A autenticidade do ambiente é o segredo.
Veja aqui mais sobre o aprendizado de crianças.
Atenciosamente,
Ricardo - EMB
Prezado Ívison,
"Frescura", no português do Brasil, é uma palavra de largo uso em linguagem informal e com vários sentidos:1) expressão, atitude ou comportamento livre, malicioso, desnecessário foolishness, nonsense;
2) comportamento reservado ou constrangido, afeito a moralismo excessivo affectation;
3) apego a convenções e preconceitos prissiness;
4) atitude de quem é afeminado, maricas effeminacy.Atenciosamente,
Ricardo - EMB
Prezado Marcello, Obrigado por sua participação. Seus questionamentos já foram em parte discutidos em nosso fórum de discussões, mas permita-me aqui aprofundar um pouco mais as questões. FACULDADE DE LETRAS: Em primeiro lugar, você deveria questionar o chefe do departamento de seu curso de letras sobre o porquê de fluência não ser um dos objetivos da faculdade, além do conhecimento metalinguístico oferecido pelo programa. Como é que eles podem lhe ensinar como ensinar inglês se eles próprios não o fazem? Fazer não seria a melhor forma de demonstrar como se faz? E no final do curso, como é que vão distribuir diplomas a graduandos que nem sequer sabem falar fluentemente o idioma que devem ensinar? Não seria como oferecer um curso para formação de instrutores de auto-escolas que não sabem dirigir ao ingressarem no curso, nem ao se formarem? Pergunte-lhes se um professor de língua estrangeira que a fala com desvios e limitações não seria equivalente a um professor de música que canta e toca desafinado. O MÉTODO DA FRANQUIA: Em segundo lugar, sobre o método empregado pela franquia onde você e o Sr. Bonella estudam, trata-se da mais autêntica versão do método audiolingual, muito popular nas décadas de 60 e 70, baseado em um plano didático rígido, gramaticalmente estruturado (embora a gramática não seja explicitamente apresentada), memorização de vocabulário e exercícios de repetição mecânica. Acreditava-se na época que o aprendizado de línguas estaria relacionado a reflexos condicionados, e que a mecânica de imitar, repetir, memorizar e exercitar palavras e frases-modelo seria instrumental para se alcançar habilidade comunicativa. É esta visão que acabou dando origem aos métodos áudio-orais e audiovisuais, baseados em automatismo e atrelados a planos didáticos tipo Livro 1, Livro 2, etc. O fato de enfatizarem a oralidade é positivo e a ausência de estudo de gramática não é grave. O problema é que a oralidade é trabalhada na forma de uma repetição oral mecânica predeterminada e não-criativa, não podendo isso ser considerado conversação. Exercícios de memorização e repetição oral mecânica eventuais podem se constituir num complemento útil para aqueles que têm tempo e força de vontade sobrando. Entretanto, podem ser praticados em casa, não exigindo professor e não precisando custar 700 reais por semestre. Não vejo tampouco relação dos planos didáticos tipo Livro 1, 2, 3 com a neurolinguística, ciência que estuda a estrutura funcional do cérebro e sua relação com a comunicação humana, sob um prisma mais clínico do que pedagógico. Será que não quiseram apenas dourar a pílula da velha receita com um termo científico moderno? A ciência que inspira e determina os rumos para as metodologias de ensino de línguas, a propósito, não é a neurolinguística, é a psicolinguística, ciência que estuda os aspectos psicológicos relativos ao desenvolvimento do conhecimento e à assimilação de línguas. Portanto, ensino e aprendizado de línguas não é neurologia, é quase que psicologia pura. O CAMINHO CERTO Para um método de ensino de língua estrangeira ser eficaz, teria que eliminar o plano didático rígido, abrindo espaço para a construção de relações humanas autênticas catalizadas pela língua-alvo e fundamentadas na habilidade pessoal do instrutor. É num ambiente de convívio assim, caracterizado pela presença da língua e da cultura, em que o participante vivencia situações reais de comunicação, que você encontraria o verdadeiro complemento que lhe falta. Melhor dito, esse seria o aprendizado propriamente dito, enquanto que a faculdade de letras seria um complemento posterior e o cursinho um esforço dispensável. Você deve também ler nossa página sobre o que é um bom professor, bem como o conjunto de perguntas e respostas sobre como tornar-se um professor de inglês. Atenciosamente, Ricardo - EMB
Mande suas consultas para um dos endereços abaixo e nós responderemos com a maior brevidade possível. As perguntas interessantes, juntamente com as respostas, serão publicadas com o nome do autor.
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